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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

[Minha Pequena]


Algum lugar do oceano, de um ano qualquer,

Minha Pequena,

Estão me mandando ao encontro do inferno, a ante-sala da minha morte. Não precisava ser assim. Eu recusei, assim como todos que eu conhecia o fizeram. Eles não terão um destino como esse. Muitos que eu conheço, para não serem descobertos, se refugiaram no interior. Outros arranjaram atestados falsos alegando incapacidade física. E alguns cães – como eu – não tiveram a mesma sorte (ou esperteza, se assim preferir chamar).

Você sabe apenas olhando nas faces dos meus companheiros, Minha Pequena, que este caminho que nos fora destinado será a provável parada final das nossas vidas. Ninguém ainda chorou desde que partimos. Talvez estão guardando o pouco que restam de si para terem uma chama de esperança. Gastei tudo o que eu pude no nosso último encontro – se lembra do meu sorriso amarelo? Sem graça? – e esses animais nos tratam feito vira-latas. Eram para eles estarem sentados nos nossos lugares, e não nós!

É essa prepotência de quem está no comando que me revolta, Minha Pequena. Eles mandam e desmandam sem respeitar as vidas que mutilam e os lares que separam. Só porque alguém não se contenta com o poder que tem e, para conseguir mais e mais, ludibriam e manipulam milhares de almas. O que justifica toda essa empreita se não esse necessidade louca de posses? Bando de porcos... São todos lacaios do mesmo mal que os corrompem. Cegos e burros com esses sonhos narcísicos tolos...

Lembra-se quando segurei-lhe em meus braços? Disse todas aquelas tolices e você calava-me com seus lábios? Sinto como se eles estivessem a beijar minhas aos e acalmassem a raiva que eles passam... Estará deita em sua cama ao ler o que parece ser as minhas últimas palavras? Queria ver o teu olhar sonso uma vez mais... Mas com mil demônios, já nos bastava o seu pai não acreditar no meu futuro e vem uma carta qualquer a chamar-me para o rebanho o qual nunca quis participar!

Espero que esta carta chegue em suas mãos sem nenhuma notícia que eu não tenha sido escrita por mim. Deus abençoe a nós e amaldiçoe quem nos separou.

Do sempre amado seu,

Lucas Macedo Lopes

26 de dezembro de 2008

~/Ł/~

domingo, 28 de dezembro de 2008

[Em Sua Defesa]



Mais um comentário infeliz vindo da sua boca. Um olhar frio não seria o suficiente para fazer a merda ser notada. Até porque a temperatura dos meus olhos não iria condizer com a minha paciência – paciência essa que se esgotara com o passar das semanas. Minha língua não ficaria parada em uma oportunidade como essa.

- Que engraçado, não? – minha mão sobre o meu caderno e meu sorriso em direção ao olhar da minha colega.

- Qual foi, meu chapa, falei algo de errado?

- Não, nada disso, só confirmando se a piadinha teve alguma graça...

- E o que há? O “literato” está zombando, é?

Literato. De onde ele iria tirar isso? Se não bastasse a falta de espaço do seu próprio ego, ainda tinha que aturar a sua costumeira necessidade de atenção. Ainda bem que o fim está próximo e, apesar da aparente proximidade das coisas, o mundo ainda continua grande o suficiente para nos perdemos do que desgostamos. Alguns olhares compartilhavam o mesmo sentimento.

- Longe de mim querer zombar...

- Nem se preocupe em disfarçar, eu sei quando estão tirando onda com a minha cara!

Ainda bem. Pelo menos, qualquer ironia dita não seria em vão. O tom magoado agora se misturava com a sua costumeira tentativa de se impor como líder. Alívo em saber que não era preciso uma chuva de pancadaria para conseguir feri-lo e me machucar.

- Poxa, não precisa falar mal dele assim, não!

O pequeno detalhe é que todos têm amigos. Se ninguém, além de nós dois, tivesse se pronunciado talvez não haveria surgido um mal estar no ambiente. Chegou a ser divertido ficar entre a voz dele e o olhar dos meus irmãos incomodados. Agora, com ela entrando no meio do diálogo, muda-se de figura.

- Eu falei algo de mais?

- Insinuando, sim!

- Pode perguntar pra qualquer um se eu falei alguma mentira...

- Mas eu não esperava você falar isso com ele!

De alguma forma, o réu teve que se intrometer na defesa de sua advogada.

- Eu me, posso fazer uma piadinha mais...

- Ta vendo, pode defendê-lo a vontade, ele mesmo irá contradizer o que você disser.

Ela me olhou meio estupefata com o que eu acabara de dizer. Segurou um pouco da raiva em suas mãos.

- Deus irá julgar os seus atos!

Surpreendi-me com tal profecia. De tantos argumentos, logo esse! Se Deus será o nosso juiz,

- O Diabo se encarregará do resto.

Lucas Macedo Lopes

28 de dezembro de 2008

~/Ł/~

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre