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sexta-feira, 26 de junho de 2009

[ Na Cozinha com Kerouack e Burroughs ]


E quanto mais o tempo passa, mais maravilhas literárias são nos reveladas pelo tempo. E os Hipopótamos Foram Cozidos em seus Tanques é um daqueles livros que, mesmo tivesse sido escrito hoje, seria um diferencial para o mercado.

Escrito por William S. Burroughs e Jack Kerouac, dois dos grandes inauguradores da geração Beat americana, Hipopótamos conta uma história diante de dois pontos de vista. William e Jack se revisaram a cada capítulo, dando continuidade a uma trama por dois narradores distintos. Um mais hábil com os diálogos e o outro, mais cativado pelos detalhes dos eventos que os rodeavam.

A história “baseia-se num crime passional ocorrido de fato em Nova York, em 1944, às margens do rio Hudson: o assassinato de David Kammerer pelo adolescente Lucien Carr, ambos amigos de Burroughs e Kerouac” (sinopse).

Os personagens revelam o que o puritanismo e as tentativas de lançar um ideal americano em meados da década de 40 escondiam. Prostitutas, homossexuais e toda sorte de tipos de indivíduos retratados de forma natural, sem nenhum alarde pelo que os outros poderiam pensar daquela mistura humana.

Foi assim, entre amigos das mais diversas origens sociais que a história se desenrola. Noitadas que se estendiam até o amanhecer, fígados praticamente de ferro, idas a museus ou aos cinemas com películas francesas. Muito que se aproveitar com quase nenhum centavo no bolso.

O título peculiar da história se deu por causa de uma notícia no rádio. Dependendo da versão, um circo pegou fogo, muitas pessoas e animais ficaram feridos e os hipopótamos – que não conseguiram fugir – foram “literalmente” cozidos em seus tanques.

Escrito antes mesmo que qualquer um dos autores ganhasse suas projeções no mundo literário como pais da geração Beat (On the Road, de Jack Kerouack e Naked Lunck, de William S. Burroughs), essa obra só foi publicada agora porque todos os envolvidos faleceram apesar de que o escrito não se mostre tão fiel ao que de fato acontecera.

Leitura rápida e agradável, se você estiver a procura de algo que não seja uma modinha passageira.

E os Hipopótamos Foram Cozidos em seus Tanques, William S. Burroughts e Jack Kerouac, Cia das Letras, 176 páginas, R$34,00.

Lucas Macedo Lopes

26 de junho de 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

[ Exílio ]


- Bem, é assim, sabe...


Interrompi-a estendendo a minha mão em um movimento não muito brusco. Não estava dando a atenção suficiente, bebendo os goles irregulares que o bebedouro me agraciava. Há tempos que espero por essa conversa e não queria que uma sede atrapalhasse tudo.


Ao olhá-la, escorada, perto, algo ficou estranho depois que mostrei-lhe minha mão. Ficara nervosa e não entendi o porque dos seusolhos começarem a ficar cheios d’água. Ela se virou em tomou o rumo do corredor que levava aos banheiros. Vendo-a correr assim, cabelo ao vento escondendo o rosto, nem me passara o que eu tivesse feito para tê-la deixado assim. Tentei acompanhar seus passos já tão distantes dos meus.


Mais a frente, ela se apoiara na parede na tentativa de se recompor. Tentei olhar em seus olhos marejados que, de quando em vez, queriam se enxugar mas não queriam se mostrar fracos à um estranho, à mim. Ela se desvencilhou dos meus olhares e tomou o rumo contrário ao que tinhamos feito, querendo me deixar preso ao seu prórprio passado, sem a intenção de mínima pretenção de me deixar fazer parte de seu futuro.


Olhei-a passar por mim assim, serena, sem se mostrar em fúria que é resultado da dor que tomara o seu ser. Seu semblante voltara a relaxar, deixando se mostrar um pouco da sua habitual cara de sonsa, desligada de quaisquer eventos futuros, ignorando o aflito protagonista desta trama, sem saber das vígulas que ainda estavam por vir. Trama essa que tomara os rumos inesperados de uma sexta-feira à noite para prender o telespectador até a próxima segunda-feira.


Segurei-a para que não fugisse mais, para que não sumisse, para que o medo maior fosse do que seriamos quando saissemos daquele corredor abarrotado de olhares esparsos conhecidos. Ela parou ofegante ao me encarar, escondendo o choro que começara a não controlar mais. Segundos de eternidade plena de uma profusão de sentimentos. Passei a mão em seu rosto para que ela não se desperdissasse em lágrimas, indo de encontro a um lugar onde será pisada por tudo e por todos.


- Calma, certo? – disse assim, sem saber que dizia.


Ela apenas me olhava. Seu cabelo já não se revoltava mais com o vento. Eu apenas a olhava. Minha camisa ainda não secara da correria que tive que fazer para não perdê-la de vista. Mas, mesmo assim, tão perto, tão longe de mim, distantes um do outro, por causa de uma música, um evento inusitado. Apenas a execução de um tema que tornou tudo o que fizemos, em nove dias de desencontros, o exílio de nossas vidas. Nada mal o que uma seresta pode causar, bem mau o que depois eu vim a colher. Por fim o fim que não veio mais cedo. A espera pela fala vacilante que não vem.


- Certo... Bem, é assim, sabe...



Lucas Macedo Lopes

18 de junho de 2009

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quarta-feira, 17 de junho de 2009

[ Sede ]


Indagarão para mim,
Quando me virem assim,
Querendo saber o que houve
Para eu estar bêbado assim.

Vão me olhar com ar soberano,
Muitos me achando um estranho,
Estar assim, ouvido colado à mesa
Cochilando o sono dos justos.

Quem será que irá ignorar?
Tentando enxergar o que não há,
De punhos fechados e braços cruzados,
Vendo a vida assim passar.

Abro meu olhar para todos
Vendo se há algum caminho
Mas não é preciso procurar muito
Já que, de tal sorte, o azar me pegou.


Lucas Macedo Lopes
16 de junho de 2009
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quinta-feira, 11 de junho de 2009

[ Quilmes e Arranhões ]

Pus o que sobrara do cigarro na beira do meu copo. A brasa ainda queimava a ponta antes de mergulhar no que restara da Quilmes Cerveza. Apesar de argentina, foi um trago apreciável. Olhei no relógio a hora que a bateria tinha parado. Naquela altura, a hora não importava mais.

- Sua vez – murmurou meu companheiro

- Já vai

Olhei pra mesa, a luz da luminária dando um ar “misterioso” que era constantemente quebrado pelo vai e vem dos garçons e dos bêbados que ali passavam. Passei o giz para ver se ele me dava alguma visão de como não cegar e ainda conseguir colocar na caçapa. Não, não dava. A bola branca passou ligeira de uma lado ao outro da mesa e deu para raspar na vermelha.

- Quem tem sorte, é outra coisa... – falou com a falta da graça de não ter me visto perder a partida e deu outro gole no que sobrara da sua cerveja.

- Sorte é? – Acendi mais um cigarro e pus-me a observar o movimento. Chovia um pouco lá fora, os carros passavam loucos em direção ao bar do outro lado da rua, uma esquina de diferença. Não ria mais das tentativas de não cegar a bola do meu oponente. Depois de tantos goles era normal ele estar alegre assim. Era normal eu ficar alegre assim.

Outra tacada mal feita e desarmei duas das minhas jogadas. Não importava mais, as baforadas já me acalmaram. Olhei para fora, alguns casais de bêbados se divertindo com meia tequila em suas mãos e arriscando suas vidas de um lado ao outro da rua.

- Outra vez sua vez...

- Eu sei, eu sei... – respondi impaciente.

Não que eu não estivesse ligeiramente de sã consciência, mas ainda não tinha me desligado por completo do mundo que eu me sustentava pelos pés. A noite foi adentrando, a música aumentara bem como o número de vagabundos que rodeavam os mais desatentos.

- Sabe de uma coisa? – falei-lhe em um sussurro – Só mais uma Quilmes e vamos para um lugar mais animado?

- Humm, pode ser, aqui não tem muito que fazer além da sinuca..

Concordamos. Brindamos por qualquer coisa que tenha vindo a nossa mente e esperei pacientemente terminar meu quarto cigarro da noite. Após devidamente pisado, fui ao volante conduzindo o destino da nossa noite. Quem olha, até pensa que um Tempra não é indicador de importância para ninguém. Não estávamos preocupados com isso mesmo, apenas em achar uma vaga para estacioná-lo no meio de tantas vielas e bares abarrotados.

Entramos em um que nos pareceu organizado. Identidades foram mostradas, revistas foram feitas, mas isso não garante muita coisa. Lá pras tantas, alguém se engraçou pela companheira do outro, duas garrafas quebradas, os mais variados cortes, dois homens indo ao hospital e uma mulher envergonhada esperando o taxi para ir para o mais longe daquele pesadelo seu.

Duas prostitutas nos olhavam a umas poucas mesas de distância. Joguei meu cigarro no chão e apaguei como se ali, uma barata estivesse. Uma última baforada.

Levantei-me.


Lucas Macedo Lopes

11 de junho de 2009

~/Ł/~


O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre