Google
WWW http://lucasmlopes.blogspot.com

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

[Minha Pequena]


Algum lugar do oceano, de um ano qualquer,

Minha Pequena,

Estão me mandando ao encontro do inferno, a ante-sala da minha morte. Não precisava ser assim. Eu recusei, assim como todos que eu conhecia o fizeram. Eles não terão um destino como esse. Muitos que eu conheço, para não serem descobertos, se refugiaram no interior. Outros arranjaram atestados falsos alegando incapacidade física. E alguns cães – como eu – não tiveram a mesma sorte (ou esperteza, se assim preferir chamar).

Você sabe apenas olhando nas faces dos meus companheiros, Minha Pequena, que este caminho que nos fora destinado será a provável parada final das nossas vidas. Ninguém ainda chorou desde que partimos. Talvez estão guardando o pouco que restam de si para terem uma chama de esperança. Gastei tudo o que eu pude no nosso último encontro – se lembra do meu sorriso amarelo? Sem graça? – e esses animais nos tratam feito vira-latas. Eram para eles estarem sentados nos nossos lugares, e não nós!

É essa prepotência de quem está no comando que me revolta, Minha Pequena. Eles mandam e desmandam sem respeitar as vidas que mutilam e os lares que separam. Só porque alguém não se contenta com o poder que tem e, para conseguir mais e mais, ludibriam e manipulam milhares de almas. O que justifica toda essa empreita se não esse necessidade louca de posses? Bando de porcos... São todos lacaios do mesmo mal que os corrompem. Cegos e burros com esses sonhos narcísicos tolos...

Lembra-se quando segurei-lhe em meus braços? Disse todas aquelas tolices e você calava-me com seus lábios? Sinto como se eles estivessem a beijar minhas aos e acalmassem a raiva que eles passam... Estará deita em sua cama ao ler o que parece ser as minhas últimas palavras? Queria ver o teu olhar sonso uma vez mais... Mas com mil demônios, já nos bastava o seu pai não acreditar no meu futuro e vem uma carta qualquer a chamar-me para o rebanho o qual nunca quis participar!

Espero que esta carta chegue em suas mãos sem nenhuma notícia que eu não tenha sido escrita por mim. Deus abençoe a nós e amaldiçoe quem nos separou.

Do sempre amado seu,

Lucas Macedo Lopes

26 de dezembro de 2008

~/Ł/~

domingo, 28 de dezembro de 2008

[Em Sua Defesa]



Mais um comentário infeliz vindo da sua boca. Um olhar frio não seria o suficiente para fazer a merda ser notada. Até porque a temperatura dos meus olhos não iria condizer com a minha paciência – paciência essa que se esgotara com o passar das semanas. Minha língua não ficaria parada em uma oportunidade como essa.

- Que engraçado, não? – minha mão sobre o meu caderno e meu sorriso em direção ao olhar da minha colega.

- Qual foi, meu chapa, falei algo de errado?

- Não, nada disso, só confirmando se a piadinha teve alguma graça...

- E o que há? O “literato” está zombando, é?

Literato. De onde ele iria tirar isso? Se não bastasse a falta de espaço do seu próprio ego, ainda tinha que aturar a sua costumeira necessidade de atenção. Ainda bem que o fim está próximo e, apesar da aparente proximidade das coisas, o mundo ainda continua grande o suficiente para nos perdemos do que desgostamos. Alguns olhares compartilhavam o mesmo sentimento.

- Longe de mim querer zombar...

- Nem se preocupe em disfarçar, eu sei quando estão tirando onda com a minha cara!

Ainda bem. Pelo menos, qualquer ironia dita não seria em vão. O tom magoado agora se misturava com a sua costumeira tentativa de se impor como líder. Alívo em saber que não era preciso uma chuva de pancadaria para conseguir feri-lo e me machucar.

- Poxa, não precisa falar mal dele assim, não!

O pequeno detalhe é que todos têm amigos. Se ninguém, além de nós dois, tivesse se pronunciado talvez não haveria surgido um mal estar no ambiente. Chegou a ser divertido ficar entre a voz dele e o olhar dos meus irmãos incomodados. Agora, com ela entrando no meio do diálogo, muda-se de figura.

- Eu falei algo de mais?

- Insinuando, sim!

- Pode perguntar pra qualquer um se eu falei alguma mentira...

- Mas eu não esperava você falar isso com ele!

De alguma forma, o réu teve que se intrometer na defesa de sua advogada.

- Eu me, posso fazer uma piadinha mais...

- Ta vendo, pode defendê-lo a vontade, ele mesmo irá contradizer o que você disser.

Ela me olhou meio estupefata com o que eu acabara de dizer. Segurou um pouco da raiva em suas mãos.

- Deus irá julgar os seus atos!

Surpreendi-me com tal profecia. De tantos argumentos, logo esse! Se Deus será o nosso juiz,

- O Diabo se encarregará do resto.

Lucas Macedo Lopes

28 de dezembro de 2008

~/Ł/~

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

[Procura-se]


Procura-se por formosa dama que se encontrava em meio a tantas palavras. Moça essa, de tantas outras que passavam, parecia olhar com a ressaca de quem já lera todas as capas dos livros que estavam ao seu redor no domingo de Bienal.

Procura-se por tamanha beleza perfeitamente distribuída nos seus prováveis 1,70 m. Beleza essa que caminhava, certamente, em alguma sandália de ligeiro salto a qual não pude atender meus olhares. Provavelmente seus pés devem ser tão belos quanto o conjunto da obra.

Procura-se pela aquela que, em blusa estampada, mostrava um puma dourado em uma blusa branca, não menos brilhante do que o relógio em qual mão segurava mimosa bolsa. Mãos bem cuidadas, pele branca e macia.

Procura-se pela alva princesa do castelo que nem ao certo sei se príncipe a tem em seu coração. Qual cavaleiro não se encantaria por tamanho encanto em forma de mulher? Posso não ter a estatura de um guerreiro de armadura em seu cavalo branco, mas não te enganas com minha altura. Meu coração pode ser maior do que qualquer Ricardo que apareça com seu título de nobreza.

Procura-se pela Rapunzel, com seu penteado rabo de cavalo, com seu rostinho lindo, tão distante da torre que habitualmente dorme e que provavelmente é longe da minha. Esse sorriso armado que não quis sair enquanto a admirava, abraçada de quando em vez com o seu irmão mais novo (Será?) e falado ao seu pai, de bigode quase branco, palavras inaudíveis no meio de tanto falatório.

Procura-se pelos olhos mais belos que já vi na vida. Azuis ou verdes? Doce ilusão. Um tom castanho com mel nunca antes fora visto por mim ou a maioria dos mortais. Um Mel abundante, profundo e doce que deve ter já atraído muitas abelhas, assim como atraiu e traiu a minha concentração. Profundidade que nunca vi alcançada por qualquer outra tonalidade do arco-íris, nem mesmo Capitu teria olhos assim: Tão amáveis quanto afáveis.

A recompensa pela busca? A gratidão e a alegria imensurável de um espectador da vida dos anônimos. Quem souber do paradeiro deste pedaço do céu, avise-me quando a avistar navegando perdidamente por ai. Posso não ter asas de penas como as dela, mas o meu par de cera pode lhe fazer uma primeira e última visita.

Lucas Macedo Lopes


16 de novembro de 2008

~/Ł/~

sábado, 4 de outubro de 2008

[Bananas]


- Alô?

- Alô, tem como alguém vir pegar as bananas?

Bananas?!

- Bananas?

- Sim, as bananas aqui no 10.

- Bananas, no 10?

- Sim, tem como pedir pra alguém pegar?

- Você interfonou para qual andar mesmo?

- Para o 13, não é do 13 não?

Desde quando a senhora do 10 envia bananas aqui para casa?

- É sim. Eu já estou indo ai pegá-las.

- Está certo.

- No 10, não é?

- É sim.

Coloquei o interfone no gancho e me dirigi até meu quarto. Bananas? Eu pensava que elas chegavam da feira todos os sábados pela manhã! Tirei a minha já gasta blusa branca e meu calção verde e me vesti de azul para descer os três andares que nos separavam.

A porta da cozinha – que dava acesso ao elevador de serviço – estava trancada. Todas as chaves sobressalentes estavam nas mãos dos outros moradores da casa. Andei novamente pela área de serviço, passei pela porta da cozinha e atravessei o apartamento à porta principal. A tarde continuava o seu curso, tornando o pôr-do-sol – estampado na minha camisa – mais autêntico à medida que o branco-gelo da parede tornava-se mais alaranjado.

Sempre alguém, fora o casal de patriarcas da família, faz uma visita ao décimo andar. Não importa a hora do dia: A porta da frente sempre está aberta e, o que parece, o mesmo acontece com a de trás. Ao olhar para dentro do apartamento, uma vasilha carregada de bananas verdes me encarava. A boa senhora, com seus trajes para exercitar-se, sorriu um sorriso de avó. Entregou-me a bacia, perguntando se não havia problemas se a minha blusa se sujasse.

- Não, não, nem se preocupe, devolvo já a sua bacia.

- Se preocupe com isso não meu filho.

Na ausência de palavras, sorri. Não que eu não tivesse nada para dizer a ela. Antes de dar-lhe as costas, não havia muito a fazer com mãos ocupadas.

- É normal que a senhora do 10 mande bananas para nós?

- É sim, você não sabia não? – respondeu minha irmã enquanto eu colocava as bananas na bancada da nossa cozinha.

Entreguei a bacia e ela me sorriu enquanto eu agradecia. Fui até o elevador social e vi o jardim da janela do hall bem cuidado. Uns dois palmos de altura, talvez. Da porta aberta, uma parede madeira dentro da casa, repleto de adornos que deixavam a luz transparecer.

Quando a porta do elevador fechou atrás de mim e Regina Spektor desabafava sobre seu jeito de amar, um pedaço da minha tarde ficara ali. Não que os óculos dela parecessem antiquados ou que o apartamento lembrasse as conversas na calçada sobre a vida alheia de meados do século passado, mas aquela casa era a cara de avós.

Lucas Macedo Lopes

2 de novembro de 2008



~/Ł/~


quarta-feira, 16 de julho de 2008

[Brisa do Mar]




Vento que trouxe

Você por aqui,

Volte para mim,

Minha querida Serafim


Vento que vai

Voando por ai,

Venha trajada de carmim,

Minha querida Serafim


Vento que levou

Velas do meu coração para ti,

Velejo pelo azul dos teus olhos,

Minha querida Serafim


Vento que passou

E nunca mais voltou,

Deixe-me novamente

Sentir teu jasmim,

Minha querida Serafim


por Lucas Arts




~/Ł/~

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

[O Xadrez e O Eu]



-Mais sorte na próxima!

Engraçado, sempre eu perco para esse senhor. Não consigo ser mais ágil que ele. Sempre vestido com alguma camisa listrada; alguns botões fora das suas casas, deixando a mostra o que o tempo fizera com os poucos pelos que cobrem o seu peito. Os óculos diziam, sem palavras, que necessitavam de um bom descanso, pois a sua função já fora cumprida há tempos.

Costumava jogar quando tinha 14, 15 anos e não era um dos melhores jogadores. Para alguém jogar como aquele senhor, deve levar anos para se chegar com aquela perspicácia. Nem quando assistia aos campeonatos que eram organizados no meu saudoso Colégio Rui Barbosa. Mas a destreza com que ele movia as peças era incrível.

-Está pronto para mais uma lição?

-Não, não – falei em meio as minhas risadas – Tenho que ir para a minha casa, não almocei ainda e já são quase três da tarde...

- Sem problemas meu filho, ainda iremos nos ver amanhã, não é?

- Com toda a certeza! Eu não dispenso uma boa partida de xadrez!

Arrumei as minhas peças, coloquei-as dentro da maleta do tabuleiro e fui caminhando em direção à minha morada. Não é bem um apartamento: um modesto cubículo, para ser franco. É uma construção antiga, aparenta ter sido construída na Fortaleza da década de 70, ou quem sabe 80. As paredes externas são devidamente ladrilhadas com cores de tons claros, mas a sujeira costuma esconder a verdadeira beleza do antigo edifício. Quatro andares, sem elevador, como era de praxe, para que o preço de cada cela (como os meus amigos costumam chamar o meu lar) não encarecesse o condomínio.

No carnaval, a cidade parece deserta, só você perambulando pelas ruas, sem se preocupar em olhar por cima do ombro, certo ar de tranqüilidade de cera. Deparei-me com os portões que dividem o caos urbano da calma aparente.

-Bom dia rapaz!

-Opa! Já voltou da praça? – Falou surpreso o zeladora

-Não estava muito disposto para continuar a jogar...

-Cansou de perder?

Rimos.

Um lance de degraus até o quarto andar e um amigo meu fica com falta de ar. “Asmático, talvez” diriam quem não o conhecesse, mas é que a sua obesidade preocupa a mim e a ele. Ele está na fila do SUS para conseguir uma redução de estomago. Até lá, o acompanho em algumas atividades físicas mais diversificadas, como andar, arriscando de vez em quando uma corrida. Cansamos do levantamento de copo, podíamos até afogar em nossas mágoas no bar do Juarez, mas elas não morrem tão facilmente.

Sem querer, os meus pés vão de encontro às baratas que aparecem no corredor. Movimento involuntário que me acostumei. Não que eu estivesse ali para acabar com a praga, não há heroísmo envolvido ao ouvir o som da casca sendo dilacerada pelos Newtons que a minha perna imprime. Apenas o medo que move o meu corpo para que essa sensação não volte tão cedo.

Esparramei-me no sofá-cama.

A melhor sensação de se estar em casa é deitado naquelas almofadas. O balcão dividia a parte da cozinha do resto dos outros cinco metros quadrados, dividos respectivamente com um par de cadeiras forradas com palhas, um aparelho de rádio com um daqueles modernos sistemas de Toca-Discos e o meu sofá. Meus livros ficam espelhados pelas prateleiras improvisadas pela sala. Um deles é usado como encalço do meu antigo sofá.

Mas não tenho o que reclamar. O vizinho de cima é um casal de idade, ruídos são raros de se ouvir. No meu corredor, ou são senhoras de idade, ou é alguém que não tem aonde cair morto e foi parar ali por falta de opção. Não que eu reclame do meu covil ou dos que me rodeiam, pelo contrário, aquele lugar satisfazia as minhas necessidades, não há motivos fortes para reclamar.

Sentei-me em uma das cadeiras e arrumei as peças do meu tabuleiro. Era intrigante o modo com que o senhor sempre me derrotava. Durante semanas remontei jogadas e descobri falhas que logo eu corrigia. Mas uma tarde jogando, sempre vejo que há alguma brecha que é usada contra mim.

-E se eu for por aqui...

E passei alguns minutos contemplando as peças arrumadas, o rei das peças brancas em xeque pelo meu bispo e um peão.

-Engraçado...

Fui até o as dependências da minha modesta alcova, com o branco das paredes amarelando com o tempo e descascando, deixando quase nuas as imperfeições que o tempo deixou por todos os lados. Despi-me e coloquei as minhas roupas em um canto próximo a minha cômoda. Olhei para os livros que ficaram para serem estudados ontem. Psicologia não é ruim, mas a teoria parece tão densa as vezes.

Olhei pela a janela, com as venezianas de madeira comida pelos cupins, e pus a admirar o branco das nuvens contrastando com o azul límpido do céu de um dos mais calmos domingos que você pode encontrar ao decorrer um ano. A moldura de madeira contrastava com os prédios que surgiam ao fundo e com as casas próximas, lembrando uma paisagem provinciana. Há hábitos que não mudam com o passar do tempo.

Um banho frio era o que eu estava precisando. Soube no instante que senti as gotas gélidas passarem pelo meu corpo. A preguiça costuma tomar conta de mim antes de entrar embaixo do chuveiro. Uma vez banhado, a preguiça some e cede espaço a mais para que eu possa raciocinar e pensar nas coisas cotidianas. Perca de tempo para alguns, mas passatempos têm-se aos montes.

Procurei no fundo do meu armário, perto das fotografias, e ao lado dos papéis de presentes guardados por anos a fio, um disco de um colega meu de faculdade. Um verdadeiro bolachão: Meddle do Pink Floyd. Magnífico era a palavra mais usada por ele para descrever o conteúdo. Ele me emprestara o álbum do pai dele para mostrar o poder musical dos 23 minutos Echoes.

Olhei para o tabuleiro novamente, para as peças que caíram em combate para atingir o objetivo do comandante. Uma torre, os dois cavalos, por pouco o rei não ficara viúvo e quatro peões.

Peão.

Era isso que sempre fora, o peão que é bucha de canhão, aquele que é sacrificado.

Mas como não pensara naquilo há mais tempo?

Na verdade, somos todos peões de um mesmo tabuleiro lutando uns contra os outros. Não importa o credo, etnia ou pátria amada, nós vivemos em meio aos conflitos dos interesses alheios, pois são eles que fazem com que as peças se movam e deixem o rei (no caso, os objetivos de cada um a serem conquistados) em xeque-mate. Observemos a nossa vida como se fossemos peões. Estamos na linha de frente, para dar forma aos sonhos e desejos que temos. Atrás estão as peças mais importantes, ou ideais que cada um carrega. É guarnecido pelas sombras delas que podemos nos espelhar para seguir em frente.

Mas a cada movimento que acontece, reviravoltas são inevitáveis. Nossos primeiros obstáculos são fáceis e simples como os peões adversários, mas qual seria a graça se fosse sempre assim?

Dependendo dos sonhos de cada um, - que é o que nos difere quanto à posição dos peões – será definindo se seremos aquele que se despede logo no inicio da partida, ou então que da suporte para uma jogada maior, mas, e quanto a nossa capacidade de realização? Partindo do pressuposto de que o peão só pode seguir em frente, logo não há um porque para querermos dar meia-volta (ou, para os mais temerosos ou com algum outro tipo de receio, querer parar no meio do tabuleiro sem arriscar).

Logo, um dos objetivos do peão é chegar ao outro lado do tabuleiro. Qual será a sua recompensa por tamanho esforço? Transformar-se em uma rainha. Ampliam-se os horizontes, visto que o peão pode andar apenas uma casa para frente e derrotar alguém quando estiver em sua diagonal. Entretanto, a rainha pode mover-se em todas as direções, andar quantas casas quiser. Querer jogar apenas com esse “peão promovido” é querer alimentar seu superego. Não é à toa, que se fosse depender apenas dele, toda a sua tática fora jogada fora.

Não se deve esquecer quem você fora outrora, pois você servirá de exemplo para alguém, e é provável que essa pessoa a use para completar o seu tabuleiro, espelhando-se naquele peão que agora se transformou em uma rainha. Não deves pisar nos peões que ainda sobram e sim guia-los para conseguirem os seus objetivos. Mas a nova majestade não deve esquecer daqueles sonhos que foram deixados pelo caminho, ou das táticas que foram errôneas. Elas servem de exemplo e aprendizado, para não deixar que os erros se repitam. Da mesma forma que evoluímos de hierarquia no xadrez, não esqueçamos do que nos faz indivíduos: As nossas mentes!

Devemos buscar evoluir mentalmente, amadurecendo com as experiências e novos ideais, para assim podermos apagar os sonhos do mundo da fantasia e transformá-los em realidade.

Xeque-mate.

-Amanhã veremos quem ganhará!



por Lucas Arts




~/Ł/~

sábado, 19 de janeiro de 2008

[Calça, Doce Mancha e a Bela e seu Sorriso]




-Há não!

Pois é, acontece com todos. Eu preferia que ele não tivesse resolvido cair ali, e sim, não estivesse desequilibrado da palheta, para assim poder saborear o morango com suspiro. Agora, aquele pedaço de sabor inigualável estava ali: Manchando a minha calça. Alguns acham o gosto de morango motivo para ter enjôos, mas eu gosto. Quem não provou, eu aconselho que o faça, mesmo que esteja com aquelas dietas de só comer carboidratos em noites de luas minguantes ou usando pontos para ver se reduz à massa corpórea.

Houve uma época que eu tentei os pontos. Deu certo?

Até certo ponto sim, perdia cem gramas aqui, outras ali... Nada muito efetivo. O conselho que eu dou é que viaje muito, ande, e coma pouco nesses lugares. Existe os “tours” gastronômicos, mas para quem tem paranóia com esse tipo de pacote turístico, são os que ficam por ultimo em uma agência de turismo...

Quer saber? Ande! Acho que é o melhor no final das contas. Ficar em casa, escutando os dedos martelarem as palavras de um texto é bom, mas fazer só isso é loucura disfarçada, como lobo em pele de cordeiro...

Mas aqui estamos. 50 Sabores, no final da Beira Mar, saboreando um sorvete de Crocante de Castanha e Morango com Suspiros e dividindo com a minha calça. Se não bastasse o desaforo que levei mais cedo do meu chefe - pelo motivo do mesmo solicitei a minha demissão – pedi as contas também com a minha namorada, contabilizando a enésima tentativa de algo sério dar certo na minha vida.

Nunca soube o significado de uma “União Estável” ou “Relacionamento Feliz”. O que conheço foi resultado de uma sucessão de erros que me levaram a estar aqui hoje, me lamentando. Agindo assim, não é a coisa mais sensata a se fazer. Afinal, pra quem já viu tanto nessa vida, trocou de emprego três vezes por levar golpes traiçoeiros dos “colegas” (ou melhor: dos bajuladores), e ansiosas trocas de namoradas, resmungar não irá me levar a lugar nenhum.

Só mesmo aquela sorveteria.

Um bar poderia ser a solução, encontrar os amigos e afogar as mágoas em alguns copos de álcool etílico. Mas não, quero estar ciente das decisões que tomei hoje. Sem falar que ao acordar amanhã, a ressaca não seria das menores.

- Posso me sentar aqui um pouco?

Quem diria que ela estaria ali. A conheci em um Sushi Bar a beira da Virgilio Távora. Digamos que não nos falamos, nem sei ao certo se ela olhou alguma vez para mim. Filha de um amigo do meu pai – muito bela por sinal e igualmente inteligente, mesmo que essas duas premissas não estejam diretamente relacionadas.

- Claro, sem problemas – e me afastei.

Ela me cumprimentou, trocamos algumas palavras, frases soltas. As certezas estavam escassas da minha mente.

- O que fazes por essas bandas? – indaguei

- Tomar sorvete, ora! – E me sorriu.

É provável que eu tenha alguma espécie de chama por belos sorrisos, eles são até melhores do que copos da bebida dos camaradas russos no Picanha do Cowboy.

Sorri também, não acompanhar um sorriso desse chega até ser considerado uma desfeita!

-Você parece até menino se melando desse jeito! – e apontou para a mancha da minha calça.

Rimos. Acho que algumas dosagens de bom humor era o que eu estava precisando naquele momento.

-Veio sozinha para cá?

- Não, não. Estou esperando o meu namorado comprar o sorvete dele – E ela apontou o dedo na direção do balcão de madeira polida. E lá estava um cara de sorte, recebendo o sorvete na casca e procurando pelo seu premio de loteria.

- Tenho que ir agora, a gente se fala mais tarde.

Enquanto ele e sua namorada se vão, o azarado fica a sós com a sua calça manchada. Sorri. Naturalmente, vontade de estar no lugar dele era o que se passava na minha cabeça. Olhei para o que havia sobrado do sorvete, sem muita vontade coloquei na lixeira.

Levantei-me.

Pus as mãos nos bolsos da minha calça e fui à direção oposta ao casal, a caminho da Feirinha perto do monumento em forma de chifre – que nunca soube ao certo o que significa. Quando eu era menor, minha mãe me contou que aquele era conhecido como o “Canal da Merda”, pois os esgotos de alguns prédios da orla marítima eram despejados no além-mar. Nunca soube se era uma lenda urbana ou não.

O nome “dado pelo povo” era apropriado para mim agora, afinal minha vida estava resumida a um pedaço de esterco, mas como diria um primo meu: “É fazendo merda quer se aduba a vida”. Espero que ele esteja certo.

Apenas quis que a dona daquele belo sorriso não estivesse com alguém em seu coração.

E quem disse que ele realmente estava?



por Lucas Arts




~/Ł/~


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

[Verbo conjugado, Verbo mudado]



Verbo

Verbalmente

erbalmente

balmente

almente

-Aumentar, almejar?

Mente.

Verbalizo

Ver balizo

Verba, liso

isso? Isso! Isso?!

-Ver batida?

Ida.


Verbo

Verbo-nominal

Verbo-profissional

Verbo-verbo

-Verver-bobo?

Ad - (Pro)vérbio


Verbalizando

Verbalizado

Verbalizedo

Verbalizido

Vebalizodo

Verbali

-.

mudo.



por Lucas Arts



~/Ł/~

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

[Pinot Noir, querido?]



Ainda passei um tempo incrédulo olhando para o telefone.

Não que isso não fosse nada de mais, afinal, era só um telefone velho. Mas ainda não acreditava que isso era verdade. Há causos que nós costumamos ter notícia, mas não passa mais do que uma informação que é armazenada na nossa memória. Mas vivenciar um desses acontecimentos é como um turbilhão de acontecimentos repentinos na mente sã de um indivíduo.

Fiquei ainda um bom tempo esparramado no velho sofá-cama do meu apartamento. Era uma sexta-feira, que tinha tudo para ser mais uma daquelas com um bom “Happy Hour” ao final do meu expediente, mas parece que alguém virou a minha mesa.

O suor ainda me deixava úmido, e não pretendida - tão cedo - abotoar a minha camisa. Estava um pouco abarrotada. Depois de correr atrás de dois ônibus e em meio a um aguaceiro que se abateu na cidade, nem os Classificados do jornal puderam amenizar as gotas sobre mim. Conseqüentemente minha camisa, como o resto de mim, já viram dias melhores.

- Isso é uma porra...

A chuva ainda pareava sobre as janelas do meu apartamento. As resmungas eram os únicos sons audíveis que eu escutei durante quase uma hora. Os tons marrons do sofá iam se multiplicando à medida que ele absorvia o suor e a água do meu corpo encharcado.

Casais discutem, uns mais outros menos, mas ela não deveria ter chegado a esse estremo. Estávamos tão bem, depois desses mais de quatro anos juntos. Só pode ser uma brincadeira, uma miragem moderna. “Sonha Alice!” é a frase mais propícia para essa hora.

Levantei-me e fui pegar o vinho que estava na geladeira, o qual havia aberto e degustado ao lado dela, ontem. Sempre vinha com o seu jeito gracioso e reclamava do meu apartamento. “Simples demais”, “esta tudo tão desorganizado como sempre!”. Sempre sorria ao escutar esses comentários. Nunca me incomodei com o meu pequeno apartamento, afinal, estava juntando dinheiro para o nosso casamento e o nosso futuro apartamento.

E a parede veio ao encontro da garrafa, que por uma ironia do destino – ou quer força misteriosa seja – saiu da minha mão impulsionada pelo meu bíceps, coracobraquial, tríceps e ancôneo (todo esse palavreado e mais alguns outros termos do meu braço esquerdo, que aprendi na faculdade de medicina). O belíssimo Pinot Noir transformou-se em vários cacos de vidro regados ao vinho que ainda sobrara. É nessas horas que eu vejo que um bom vinho não combina com o vidro e o pó da minha morada.

“Siga o caminho do Adriano: Acabou com um relacionamento, por razões diversas, que durava mais de seis anos e está indo todo final de semana para festas!”. Isso é o que a minha razão fica me dizendo, mas o que eu sinto não admite, assim como a minha parte sã.

O vinho respingara na foto que havíamos tirado nas praias do litoral sul. O tom rosado que ficou espalhado pela foto me chamou a atenção. Não que eu nunca tivesse percebido antes. Mas, assim como o vinho pincelou uma nova imagem naquela que já havia, as brigas vêm para que os casais se reciclem e fiquem melhores.

A angústia que tomava conta do meu ser, agora se esvai em meio a um sorriso. “Um bom banho, isso é o que eu preciso agora”. E em meio a um alívio e moleza, dirigi-me ao banheiro, despi-me, olhei-me no espelho e balancei a cabeça. “Engraçado como a vida acontece.”. Era o pensamento que mais voltava para minha mente.

O suor e a água da chuva deram lugar a uma boa toalha, com a qual me enxuguei e, depois de colocado o meu bom e velho calção, me deparei com o telefone fora do gancho sobre o sofá. Tratei de colocá-lo no seu lugar. Mas que surpresa: o mesmo começou a fazer o seu “Trim, Trim” de costume. Antes de pronunciar os meus cumprimentos, uma voz tão conhecida entra pelo meu ouvido:

-Pensei que você estivesse fora de casa ou com o telefone cortado!

Sorri.

-Não precisava ter sido tão bruta agora a pouco amor!

Por uns instantes, só ouvia a sua respiração, e tendo a certeza de que corara.

-Me desculpe querido, o dia hoje foi um pé-no-saco.

Felizmente.



por Lucas Arts



~/Ł/~

[NoNa]





No tempo que se arrasta
No sorriso que desaparece
Na flor que desabrocha
Na noite em que escurece

Na vida que passa
No relógio que escorrega
No som que é tocado
No vôo do passáro

No sol que nasce
No quadro ao lado
Na lembraça perdida

Sem nexo vou pensando
Sem ser lido vou escrevendo
Sem viver vou amando...

[Escrito em 22/06/06]


por Lucas Arts



~/Ł/~

terça-feira, 8 de janeiro de 2008



[Ouchi - Contracrônicas de um Cearense abismado com um Paraense]


Dia fatídico aquele. Não foi fácil se levantar naquela manhã de sábado. Mal o sol despontava no horizonte, o meu despertador tocara. Ergui-me da minha rede e fui desligá-lo. Retornei para o bom balanço da minha antiga companheira de sonhos, que por tantas ocasiões me fez esclarecer idéias e criar novas indagações de uma vida tão vazia em respostas.

Quem dera que não tivesse nenhum compromisso naquela manhã. Entretanto, a minha agenda alertava-me sobre outra coisa: Simulado UFC. Esperei o sol adentrar meu quarto e aquece-lo com os primeiros raios do novo dia. No meu som tocava Biquíni Cavadão – ´´Escuta Aqui`` e ´´Em Algum Lugar no Tempo`` - e como estava atordoado dos últimos acontecimentos que permeiam minha vida, abri meus olhos, na tentativa de não cair na tentação de transformar o meu novo dia de experiências, em mais uma noite de sonhos.

Levantei-me. Horas? 6:30 da manhã, pretendendo ainda ler minhas anotações para a prova que se aproximava. Quem disse que eu o fiz? Entrei pelas lacunas da minha mente, permitindo que a música preenchesse todos os espaços que ainda estavam vagos, até que o gongo soasse suas badaladas que condenaram (ou melhor, salvaram) muitos.

Concentração durante a avaliação? Apenas a música e sua inspiração me davam forças para mover minha mão, e com a mesma, realizar o fatídico trabalho de discursar números e letras por entre meia centena de questões.

Os velhos amigos, foi bom revê-los. Companheiros de longas e novas datas, todos saindo de suas respectivas salas em horários diferentes. Meio-dia e as luzes são apagadas, e muitos saem aliviados ou preocupados com o resultado que está por vir.

Mas me surpreendi mais tarde, com um deles. Utilizando-me de um dos modos mais usais da era contemporânea, me deparo com um “link” que me deixou surpreso. Não relacionado com a pressa e a não-apreciação do simples, mas algo de tom elevado.

Não que fosse música, como as que dominam meus pensamentos, mas textos e crônicas escritas por um paraense. Colega de colégio? Amigos, por assim dizer. Textos escritos por um amador? Outrora talvez, mas em um lugar tão inóspito, revelou-se diante meus olhos, um escritor nato, que invejo saudavelmente, sem brigas nem intrigas. Um cronista a quem devo me espelhar, se almejo evoluir como escritor. Utilizando-me da licença poética e fugindo do protocolo literário, Apenas gostaria de deixar minhas últimas palavras de admiração: ´´Tsss... Just a little bife!``


[Escrito em 20/10/2007]


por Lucas Arts



~/Ł/~



[Toc,Toc... Levante-se!]

Fantasias de um mundo eletrônico,
Ilusões da mente
Carregando por entre as mãos
Um delicado pingente

Som falso,
Som artificial,
Que agudo será esse
Que tanto pertuba minha mente??

Mente pequena
Janela aberta
Para onde olha no céu escuro??

Tardes de lembranças
Passados recentes
E uma vida toda pela frente.

[Escrito em 19/05/06]


por Lucas Arts



~/Ł/~

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008



[Mr.Blue]

Leve, pode levar. Claro, eu sei que mesmo não querendo, você irá levar consigo o que eu deixar para trás. Não se preocupe, eu te entendo. Desde sempre você é assim, sempre que eu venho aqui, você teima em apagar as marcas que eu deixo por aqui. Não se envergonhe e queira ficar passivo só por eu estar falando assim. Eu vejo que você não está bravo hoje. Menos mal, assim posso caminhar em paz.

Mas por que insiste em fazer desaparecer as minhas pegadas? Elas não são lá essas coisas, mas esse é o trabalho do tempo, e não o seu. A não ser pelas palavras que eu escrevo, eu sou apenas uma mínima parte do efêmero que nos circunda. Mas eu acho que o seu trabalho é esse mesmo. Apagar o que todos fazemos.

Sempre te admirei, até porque, não conheço algo que possa se comparar a sua grandeza. Até tenha algo que possa ser usado como “medição de importância”, mas nenhum dos outros tem tanta importância como você. Podem dizer o que quiserem: quem nunca o usou como conselheiro, não sabem a paz que você trás após uma caminhada ao seu lado.

Muitos nem ligam para a sua existência, vão até você por ser refrescante – até porque isso é uma verdade inquestionável – em busca de fortes emoções, mas quem nunca proferiu o que sentia para ti, não sabe como é recompensador chegar a uma conclusão apaziguante. Mesmo que o assunto por si só não seja relevante, quando falado ao teu lado – caminhando e sentido o vento – a resposta pode ser ouvida ao seu redor.

Claro que quando está sendo compartilhado por muitos, a resposta demora mais, mas não significa que ela não venha. Além do que, o sol sempre me acompanhou nessas horas – a não ser em dias nublados, mas nem por isso, menos importantes. O sol esquentava, enquanto você refrescava com a ajuda do vento.

Mas quando me pego olhando para ti, me perdendo na sua imensidão, as vontades que tenho é de levar as minhas feridas e cicatrizes o mais longe de mim mesmo. Talvez um nômade, ou me transformar em um velho lobo, mas qual é a graça se vejo que meus pés foram feitos para em terra firme se fincarem?

Lutar contra a minha natureza não é difícil, apenas demorada. Não é tanto, que mesmo sem asas, podemos ir para além do que conhecemos? Mas quem não conhece os prazeres da sua imensidão azul, não sabe qual é o gosto da maresia, das suas ondas nos perseguindo – com algumas até traiçoeiras, mas sem elas, não aprenderíamos a ter cuidado e redobrar a nossa atenção.

Sentar a sua beira e te observar se apossando da terra que me envolve é um tanto quanto fascinante. Fera indomável, mas dócil para aqueles que sabem te respeitar e que se deixam levar pela sua força misteriosa. Mar não é apenas água salgada que traga tudo ao seu redor: Mar é o mais antigo pensador que há, e por que não, um dos mais velhos habitantes que possamos conviver? Ele nos traz sabedoria, pois ele já esteve em todos os redutos que possamos imaginar ao nosso redor.

E está à nossa frente, seguindo o seu curso, de vir tocar os nossos pés e cobrir as nossas pegadas, pois o que é efêmero, transformar-se-á em pó algum dia.


por Lucas Arts



~/Ł/~


O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre