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sábado, 19 de janeiro de 2008

[Calça, Doce Mancha e a Bela e seu Sorriso]




-Há não!

Pois é, acontece com todos. Eu preferia que ele não tivesse resolvido cair ali, e sim, não estivesse desequilibrado da palheta, para assim poder saborear o morango com suspiro. Agora, aquele pedaço de sabor inigualável estava ali: Manchando a minha calça. Alguns acham o gosto de morango motivo para ter enjôos, mas eu gosto. Quem não provou, eu aconselho que o faça, mesmo que esteja com aquelas dietas de só comer carboidratos em noites de luas minguantes ou usando pontos para ver se reduz à massa corpórea.

Houve uma época que eu tentei os pontos. Deu certo?

Até certo ponto sim, perdia cem gramas aqui, outras ali... Nada muito efetivo. O conselho que eu dou é que viaje muito, ande, e coma pouco nesses lugares. Existe os “tours” gastronômicos, mas para quem tem paranóia com esse tipo de pacote turístico, são os que ficam por ultimo em uma agência de turismo...

Quer saber? Ande! Acho que é o melhor no final das contas. Ficar em casa, escutando os dedos martelarem as palavras de um texto é bom, mas fazer só isso é loucura disfarçada, como lobo em pele de cordeiro...

Mas aqui estamos. 50 Sabores, no final da Beira Mar, saboreando um sorvete de Crocante de Castanha e Morango com Suspiros e dividindo com a minha calça. Se não bastasse o desaforo que levei mais cedo do meu chefe - pelo motivo do mesmo solicitei a minha demissão – pedi as contas também com a minha namorada, contabilizando a enésima tentativa de algo sério dar certo na minha vida.

Nunca soube o significado de uma “União Estável” ou “Relacionamento Feliz”. O que conheço foi resultado de uma sucessão de erros que me levaram a estar aqui hoje, me lamentando. Agindo assim, não é a coisa mais sensata a se fazer. Afinal, pra quem já viu tanto nessa vida, trocou de emprego três vezes por levar golpes traiçoeiros dos “colegas” (ou melhor: dos bajuladores), e ansiosas trocas de namoradas, resmungar não irá me levar a lugar nenhum.

Só mesmo aquela sorveteria.

Um bar poderia ser a solução, encontrar os amigos e afogar as mágoas em alguns copos de álcool etílico. Mas não, quero estar ciente das decisões que tomei hoje. Sem falar que ao acordar amanhã, a ressaca não seria das menores.

- Posso me sentar aqui um pouco?

Quem diria que ela estaria ali. A conheci em um Sushi Bar a beira da Virgilio Távora. Digamos que não nos falamos, nem sei ao certo se ela olhou alguma vez para mim. Filha de um amigo do meu pai – muito bela por sinal e igualmente inteligente, mesmo que essas duas premissas não estejam diretamente relacionadas.

- Claro, sem problemas – e me afastei.

Ela me cumprimentou, trocamos algumas palavras, frases soltas. As certezas estavam escassas da minha mente.

- O que fazes por essas bandas? – indaguei

- Tomar sorvete, ora! – E me sorriu.

É provável que eu tenha alguma espécie de chama por belos sorrisos, eles são até melhores do que copos da bebida dos camaradas russos no Picanha do Cowboy.

Sorri também, não acompanhar um sorriso desse chega até ser considerado uma desfeita!

-Você parece até menino se melando desse jeito! – e apontou para a mancha da minha calça.

Rimos. Acho que algumas dosagens de bom humor era o que eu estava precisando naquele momento.

-Veio sozinha para cá?

- Não, não. Estou esperando o meu namorado comprar o sorvete dele – E ela apontou o dedo na direção do balcão de madeira polida. E lá estava um cara de sorte, recebendo o sorvete na casca e procurando pelo seu premio de loteria.

- Tenho que ir agora, a gente se fala mais tarde.

Enquanto ele e sua namorada se vão, o azarado fica a sós com a sua calça manchada. Sorri. Naturalmente, vontade de estar no lugar dele era o que se passava na minha cabeça. Olhei para o que havia sobrado do sorvete, sem muita vontade coloquei na lixeira.

Levantei-me.

Pus as mãos nos bolsos da minha calça e fui à direção oposta ao casal, a caminho da Feirinha perto do monumento em forma de chifre – que nunca soube ao certo o que significa. Quando eu era menor, minha mãe me contou que aquele era conhecido como o “Canal da Merda”, pois os esgotos de alguns prédios da orla marítima eram despejados no além-mar. Nunca soube se era uma lenda urbana ou não.

O nome “dado pelo povo” era apropriado para mim agora, afinal minha vida estava resumida a um pedaço de esterco, mas como diria um primo meu: “É fazendo merda quer se aduba a vida”. Espero que ele esteja certo.

Apenas quis que a dona daquele belo sorriso não estivesse com alguém em seu coração.

E quem disse que ele realmente estava?



por Lucas Arts




~/Ł/~


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

[Verbo conjugado, Verbo mudado]



Verbo

Verbalmente

erbalmente

balmente

almente

-Aumentar, almejar?

Mente.

Verbalizo

Ver balizo

Verba, liso

isso? Isso! Isso?!

-Ver batida?

Ida.


Verbo

Verbo-nominal

Verbo-profissional

Verbo-verbo

-Verver-bobo?

Ad - (Pro)vérbio


Verbalizando

Verbalizado

Verbalizedo

Verbalizido

Vebalizodo

Verbali

-.

mudo.



por Lucas Arts



~/Ł/~

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

[Pinot Noir, querido?]



Ainda passei um tempo incrédulo olhando para o telefone.

Não que isso não fosse nada de mais, afinal, era só um telefone velho. Mas ainda não acreditava que isso era verdade. Há causos que nós costumamos ter notícia, mas não passa mais do que uma informação que é armazenada na nossa memória. Mas vivenciar um desses acontecimentos é como um turbilhão de acontecimentos repentinos na mente sã de um indivíduo.

Fiquei ainda um bom tempo esparramado no velho sofá-cama do meu apartamento. Era uma sexta-feira, que tinha tudo para ser mais uma daquelas com um bom “Happy Hour” ao final do meu expediente, mas parece que alguém virou a minha mesa.

O suor ainda me deixava úmido, e não pretendida - tão cedo - abotoar a minha camisa. Estava um pouco abarrotada. Depois de correr atrás de dois ônibus e em meio a um aguaceiro que se abateu na cidade, nem os Classificados do jornal puderam amenizar as gotas sobre mim. Conseqüentemente minha camisa, como o resto de mim, já viram dias melhores.

- Isso é uma porra...

A chuva ainda pareava sobre as janelas do meu apartamento. As resmungas eram os únicos sons audíveis que eu escutei durante quase uma hora. Os tons marrons do sofá iam se multiplicando à medida que ele absorvia o suor e a água do meu corpo encharcado.

Casais discutem, uns mais outros menos, mas ela não deveria ter chegado a esse estremo. Estávamos tão bem, depois desses mais de quatro anos juntos. Só pode ser uma brincadeira, uma miragem moderna. “Sonha Alice!” é a frase mais propícia para essa hora.

Levantei-me e fui pegar o vinho que estava na geladeira, o qual havia aberto e degustado ao lado dela, ontem. Sempre vinha com o seu jeito gracioso e reclamava do meu apartamento. “Simples demais”, “esta tudo tão desorganizado como sempre!”. Sempre sorria ao escutar esses comentários. Nunca me incomodei com o meu pequeno apartamento, afinal, estava juntando dinheiro para o nosso casamento e o nosso futuro apartamento.

E a parede veio ao encontro da garrafa, que por uma ironia do destino – ou quer força misteriosa seja – saiu da minha mão impulsionada pelo meu bíceps, coracobraquial, tríceps e ancôneo (todo esse palavreado e mais alguns outros termos do meu braço esquerdo, que aprendi na faculdade de medicina). O belíssimo Pinot Noir transformou-se em vários cacos de vidro regados ao vinho que ainda sobrara. É nessas horas que eu vejo que um bom vinho não combina com o vidro e o pó da minha morada.

“Siga o caminho do Adriano: Acabou com um relacionamento, por razões diversas, que durava mais de seis anos e está indo todo final de semana para festas!”. Isso é o que a minha razão fica me dizendo, mas o que eu sinto não admite, assim como a minha parte sã.

O vinho respingara na foto que havíamos tirado nas praias do litoral sul. O tom rosado que ficou espalhado pela foto me chamou a atenção. Não que eu nunca tivesse percebido antes. Mas, assim como o vinho pincelou uma nova imagem naquela que já havia, as brigas vêm para que os casais se reciclem e fiquem melhores.

A angústia que tomava conta do meu ser, agora se esvai em meio a um sorriso. “Um bom banho, isso é o que eu preciso agora”. E em meio a um alívio e moleza, dirigi-me ao banheiro, despi-me, olhei-me no espelho e balancei a cabeça. “Engraçado como a vida acontece.”. Era o pensamento que mais voltava para minha mente.

O suor e a água da chuva deram lugar a uma boa toalha, com a qual me enxuguei e, depois de colocado o meu bom e velho calção, me deparei com o telefone fora do gancho sobre o sofá. Tratei de colocá-lo no seu lugar. Mas que surpresa: o mesmo começou a fazer o seu “Trim, Trim” de costume. Antes de pronunciar os meus cumprimentos, uma voz tão conhecida entra pelo meu ouvido:

-Pensei que você estivesse fora de casa ou com o telefone cortado!

Sorri.

-Não precisava ter sido tão bruta agora a pouco amor!

Por uns instantes, só ouvia a sua respiração, e tendo a certeza de que corara.

-Me desculpe querido, o dia hoje foi um pé-no-saco.

Felizmente.



por Lucas Arts



~/Ł/~

[NoNa]





No tempo que se arrasta
No sorriso que desaparece
Na flor que desabrocha
Na noite em que escurece

Na vida que passa
No relógio que escorrega
No som que é tocado
No vôo do passáro

No sol que nasce
No quadro ao lado
Na lembraça perdida

Sem nexo vou pensando
Sem ser lido vou escrevendo
Sem viver vou amando...

[Escrito em 22/06/06]


por Lucas Arts



~/Ł/~

terça-feira, 8 de janeiro de 2008



[Ouchi - Contracrônicas de um Cearense abismado com um Paraense]


Dia fatídico aquele. Não foi fácil se levantar naquela manhã de sábado. Mal o sol despontava no horizonte, o meu despertador tocara. Ergui-me da minha rede e fui desligá-lo. Retornei para o bom balanço da minha antiga companheira de sonhos, que por tantas ocasiões me fez esclarecer idéias e criar novas indagações de uma vida tão vazia em respostas.

Quem dera que não tivesse nenhum compromisso naquela manhã. Entretanto, a minha agenda alertava-me sobre outra coisa: Simulado UFC. Esperei o sol adentrar meu quarto e aquece-lo com os primeiros raios do novo dia. No meu som tocava Biquíni Cavadão – ´´Escuta Aqui`` e ´´Em Algum Lugar no Tempo`` - e como estava atordoado dos últimos acontecimentos que permeiam minha vida, abri meus olhos, na tentativa de não cair na tentação de transformar o meu novo dia de experiências, em mais uma noite de sonhos.

Levantei-me. Horas? 6:30 da manhã, pretendendo ainda ler minhas anotações para a prova que se aproximava. Quem disse que eu o fiz? Entrei pelas lacunas da minha mente, permitindo que a música preenchesse todos os espaços que ainda estavam vagos, até que o gongo soasse suas badaladas que condenaram (ou melhor, salvaram) muitos.

Concentração durante a avaliação? Apenas a música e sua inspiração me davam forças para mover minha mão, e com a mesma, realizar o fatídico trabalho de discursar números e letras por entre meia centena de questões.

Os velhos amigos, foi bom revê-los. Companheiros de longas e novas datas, todos saindo de suas respectivas salas em horários diferentes. Meio-dia e as luzes são apagadas, e muitos saem aliviados ou preocupados com o resultado que está por vir.

Mas me surpreendi mais tarde, com um deles. Utilizando-me de um dos modos mais usais da era contemporânea, me deparo com um “link” que me deixou surpreso. Não relacionado com a pressa e a não-apreciação do simples, mas algo de tom elevado.

Não que fosse música, como as que dominam meus pensamentos, mas textos e crônicas escritas por um paraense. Colega de colégio? Amigos, por assim dizer. Textos escritos por um amador? Outrora talvez, mas em um lugar tão inóspito, revelou-se diante meus olhos, um escritor nato, que invejo saudavelmente, sem brigas nem intrigas. Um cronista a quem devo me espelhar, se almejo evoluir como escritor. Utilizando-me da licença poética e fugindo do protocolo literário, Apenas gostaria de deixar minhas últimas palavras de admiração: ´´Tsss... Just a little bife!``


[Escrito em 20/10/2007]


por Lucas Arts



~/Ł/~



[Toc,Toc... Levante-se!]

Fantasias de um mundo eletrônico,
Ilusões da mente
Carregando por entre as mãos
Um delicado pingente

Som falso,
Som artificial,
Que agudo será esse
Que tanto pertuba minha mente??

Mente pequena
Janela aberta
Para onde olha no céu escuro??

Tardes de lembranças
Passados recentes
E uma vida toda pela frente.

[Escrito em 19/05/06]


por Lucas Arts



~/Ł/~

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008



[Mr.Blue]

Leve, pode levar. Claro, eu sei que mesmo não querendo, você irá levar consigo o que eu deixar para trás. Não se preocupe, eu te entendo. Desde sempre você é assim, sempre que eu venho aqui, você teima em apagar as marcas que eu deixo por aqui. Não se envergonhe e queira ficar passivo só por eu estar falando assim. Eu vejo que você não está bravo hoje. Menos mal, assim posso caminhar em paz.

Mas por que insiste em fazer desaparecer as minhas pegadas? Elas não são lá essas coisas, mas esse é o trabalho do tempo, e não o seu. A não ser pelas palavras que eu escrevo, eu sou apenas uma mínima parte do efêmero que nos circunda. Mas eu acho que o seu trabalho é esse mesmo. Apagar o que todos fazemos.

Sempre te admirei, até porque, não conheço algo que possa se comparar a sua grandeza. Até tenha algo que possa ser usado como “medição de importância”, mas nenhum dos outros tem tanta importância como você. Podem dizer o que quiserem: quem nunca o usou como conselheiro, não sabem a paz que você trás após uma caminhada ao seu lado.

Muitos nem ligam para a sua existência, vão até você por ser refrescante – até porque isso é uma verdade inquestionável – em busca de fortes emoções, mas quem nunca proferiu o que sentia para ti, não sabe como é recompensador chegar a uma conclusão apaziguante. Mesmo que o assunto por si só não seja relevante, quando falado ao teu lado – caminhando e sentido o vento – a resposta pode ser ouvida ao seu redor.

Claro que quando está sendo compartilhado por muitos, a resposta demora mais, mas não significa que ela não venha. Além do que, o sol sempre me acompanhou nessas horas – a não ser em dias nublados, mas nem por isso, menos importantes. O sol esquentava, enquanto você refrescava com a ajuda do vento.

Mas quando me pego olhando para ti, me perdendo na sua imensidão, as vontades que tenho é de levar as minhas feridas e cicatrizes o mais longe de mim mesmo. Talvez um nômade, ou me transformar em um velho lobo, mas qual é a graça se vejo que meus pés foram feitos para em terra firme se fincarem?

Lutar contra a minha natureza não é difícil, apenas demorada. Não é tanto, que mesmo sem asas, podemos ir para além do que conhecemos? Mas quem não conhece os prazeres da sua imensidão azul, não sabe qual é o gosto da maresia, das suas ondas nos perseguindo – com algumas até traiçoeiras, mas sem elas, não aprenderíamos a ter cuidado e redobrar a nossa atenção.

Sentar a sua beira e te observar se apossando da terra que me envolve é um tanto quanto fascinante. Fera indomável, mas dócil para aqueles que sabem te respeitar e que se deixam levar pela sua força misteriosa. Mar não é apenas água salgada que traga tudo ao seu redor: Mar é o mais antigo pensador que há, e por que não, um dos mais velhos habitantes que possamos conviver? Ele nos traz sabedoria, pois ele já esteve em todos os redutos que possamos imaginar ao nosso redor.

E está à nossa frente, seguindo o seu curso, de vir tocar os nossos pés e cobrir as nossas pegadas, pois o que é efêmero, transformar-se-á em pó algum dia.


por Lucas Arts



~/Ł/~


O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre