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quinta-feira, 30 de julho de 2009

[ Minha (?) Busca pelo Yage Perdido ]

Os pontos monótonos de algumas tardes minhas foram aliviadas ao ler as cartas entre William Burroughs e Allen Ginberg. Em mais uma das compactas edições da L&PM, Cartas do Yage é uma obra interessante para se passar o tempo quando se está numa fila à espera de algo ou a espera pela consulta médica na sala de espera.

Cartas do Yage não é bem um romance ou uma história feita para leitores no primeiro momento. A obra reúne as cartas trocadas por Burroughs e Ginsberg na qual aquele conta a este a sua busca pela droga sul-americana. Os relatos são fantásticos, as cartas são ricas em detalhes. Imaginar uma Colômbia tão pitoresca como a que é descrita no livro é bem engraçado de se fazer. As tentativas frustradas de se conseguir chegar até onde o alucinógeno é preparado ou de se conseguir algum garoto para ser sua companhia por uma noite são interessantes para se ter uma noção do comportamento humano além do que existe nos livros de história dos colégios.

Yage (ou ayahuasca) é o nome de uma droga utilizada por índios da nascente do rio Amazonas. Ele é utilizado para que o usuário adquira poderes telepáticos e o ajude a se comunicar com animais ou de encontrar objetos perdidos mais facilmente. Segundo Eduardo Bueno “a extinta revista americana High Times, especializada em drogas, não cansava de repetir que o yage, ‘a mais alucinógena de todas as drogas’, é ‘absolutamente legal e seu uso não implica nenhum problema judicial’”.

Se, aparentemente, não há problemas legais em se consumir o yage, os seus efeitos no corpo não são os mais agradáveis se o usuário não consumir a dosagem correta na busca de adquirir os tais “poderes telepáticos”. Burroughs passou maus bocados após a sua primeira experiência com o alucinógeno: saiu rapidamente da casa onde um “pajé” o havia lhe preparado uma dose um tanto quanto forte, esbarrou seu ombro com tal intensidade que, se não estivesse sob o efeito do ayahuasca, teria agonizado de dor, se agarrou a uma pedra, não sabia se quem lhe convidava para entrar novamente na casa era o pajé e ainda vomitou até o que não tinha.

Breve, leve, bom preço e fácil de levar para qualquer lugar. Pra que melhor?

Cartas do Yage, William Burroughs e Allen Ginsberg, L&PM Pocket Plus, 103 páginas, R$8,00

Lucas Macedo Lopes

30 de julho de 2009

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

[ Pesado, Minto, é? ]

Não sei por que

Ainda me surpreendo:

Do nada que não é

Do tudo que já foi.


Se sempre sei

Que nunca saberei,

Como sempre fico eu

A mercê do que viverei?


Como pode um peixe morto

Ser cozido fora da água quente?

Como pode alguém viver

Sem outro alguém a lhe aquecer?


Como pode ser,

Tão pesado de se carregar,

Um coração vazio

De uma jovem mente,

Que mente sempre

O que minto que sinto?


Lucas Macedo Lopes

27 de julho de 2009

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[ Um Dia ]


Um dia encontrei comigo,

Quatro anos mais velho,

Olhei como quem indaga o futuro,

Vi quem via indiferente o passado.


Supliquei nos meus olhos jovens

A ponderação para meus atos de velho,

Não sei se eu dei me importei

Escutar aquilo quatro anos mais novo.


Achei graça do que o tempo fez comigo

Do que ele fez com todos que ali estavam

Especialmente do meu português

Tão simples toda vez que me escutavam.


Um dia olhei para mim,

Quatro anos mais novo,

Não entendia o que falava,

Resolvi apagá-lo da frente de todos

E guardá-lo em mim próprio.


Lucas Macedo Lopes

27 de julho de 2009

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[ Any ]

Percorria os olhos em si mesma. Ali, deitada, como quem não faz questão que o mundo se acabe, olhava os acordes do seu violão. Dava voltas pelos seus pensamentos, acreditando em sonhos passageiros, um mundo doce que se acabava aos poucos pelo seu costumeiro enjôo e as tantas formigas que vinham participar da festa sem serem convidadas.

Passava a mão pelas suas madeixas, tornava-ás todas calmas com a exceção de um tufo cortado pela metade. Olhava assim o tempo como quem não quer nada, uma bebida ou uma água, olhando para o fundo do teto raso do seu quarto. Era sim, era assim que vivia, sem se importar com a chuva que só molhava seu próprio quarto, sem nunca querer deixar São Pedro assumir o seu devido lugar.

Desfaz-se em sombras e lágrimas, juntando todas as suas partes em uma poça só que vai pelo ralo. Quantos outros esse pedaço dela ela não encontraria perdidos pelos encanamentos dos “deixados de lado”? Quem sabe não é o lugar dos “mal amados”, ou melhor: dos que não querem amar. Melhor mesmo? Estar onde se é melhor não se permitir a sentir algo do que ficar estático em um corpo feito de apenas carne?

Não sei, ela também não sabia. Olhava para a taça sem saber o que faria: se tocaria um pouco mais no seu violão ou tentaria arrancar alguns acordes verdadeiros dos corações dos outros. Preferiu ficar ali um tempo ainda a contemplar o céu que não via, via a chuva que não a molhava dos pés a cabeça, tentou ver o sentimento que não sentia. Tentou ver o abstrato em baixo da sua cama, tentou ver o seu amigo ao celular ou qualquer coisa que a ajudasse ao máximo não tocar no outro (ou em si mesma).

Pensou ainda em colocar uma camisa pra cobrir o sutiã, mudar o short do pijama para algo menos informal. Não conseguiu. As lembranças que se apertavam no guarda-roupa não a deixavam se sentir confortável em nada que tentasse vestir. E ainda assim tentava ver a vida através de um conjunto de lentes serelepes, que vem e vão, ajustando o foco e pegando os seus verdadeiros momentos, os seus falsos momentos, os seus falsos sentimentos, os seus verdadeiros sentimentos.

Depois de um tempo, voltou a dormir.

Lucas Macedo Lopes

27 de julho de 2009

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domingo, 19 de julho de 2009

[ Busca ]


Percorreu os olhos cansados pela casa. Resolveu procurar algo que não sabia o que era pelas estantes já empoeiradas pelo tempo. Olhava, olhava, apenas títulos de um passado tão lido e relido, capas e contracapas amassadas ou um pouco rasgadas pelo manuseio de mãos ansiosas que esperavam que, daquelas palavras, houvesse algum sentido para tanto desentendimento, para tanta falta do que fazer, para tanta chuva e tão pouco tempo. São olhos que, apesar de cansados, novos por uma natureza já gasta de tanto assistir filmes. Quantos são? Nem sabe ao certo, mas ali, entre pilhas de DVDs e alguns velhos VHS, resolveu se sentar ao computador e ver a vida diante de um quadrado animado. Mudando sempre as imagens para que não enjoasse, na esperança de alguma vã fala, alguma voz que saisse dali e a despertasse do sono dos sem sonhos, algo mais humano do que um aparelho ligado a parede. Leu, sem saber, um acaso, resolver fazer caso, olhar pela janela e ver o que eu via, eu só não sabia se entenderia o que é a vida.


Lucas Macedo Lopes

19 de julho de 2009


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sábado, 18 de julho de 2009

[ Choro de Mulher ]

Toque uma música,

Pode ser o que vier

Melhor do que o chorinho

É o corpo inteiro de mulher!


Não ligue para um tolo!

Dedilhe esse cavaco,

Deixe a flauta continuar

A beber ao pé da mesa.


Nesse doce som

Entre fás e claves de sol,

Deixe a música me animar,

Dessa solidão, me tirar!


Eu quero a companhia da gaita,

Do preso, do vagabundo,

Caminhar por ai sem rumo,

Encontrar a paz na minha gaiata.


Toque um chorinho

Toque assim, bem baixinho

Para que ela não acorde,

Para que ela não chore.


Só toque direitinho

Para que nada saia errado,

Para que ela não fuja de mim,

Para que eu não fique melado.



Lucas Macedo Lopes

18 de julho de 2009

(Imagem: Chorinho, de Cândido Portinari)

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

[ Falatórios ]


- Você vai?

- Vou!

- Tem certeza?

- Claro, por que eu não teria?

- Sei lá, você está hesitando tanto...

- Eu?! Quem disse?

- Não precisa alguém dizer, basta ver nos seus olhos...

- Bobagem.

- Bobagem?

- Sim, bobagem.

- Bem, eles lhe traem toda vez que olha para lá.

- Como você sabe? Eu não fico olhando para você!

- É, mas quando você se vira e me encara, eles pedem por socorro.

- Deixe de tolice. Eu não voltaria atrás.

- E por que não?

- Ué, porque eu já fiz a minha decisão e você não me fará voltar atrás.

- Mesmo os seus olhos me dizendo o contrário?

- Claro, até porque olhos não falam.

- Não é porque você está dizendo o contrário que eu não vá saber.

- Tolice.

- Tolice?

- Pura tolice sua. Por que eu não devo continuar?

- A questão não é se deve ou não: e sim a sua coragem de fazê-lo.

- Mas posso muito bem continuar

- Mas não tem a coragem.

- Dúvida que eu não o faça?

- Disso eu não duvido, mas você sabe que é um caminho sem volta...

- Sei, sei...

- Por isso ainda estou aqui.

- Como assim? Você duvida se eu vou ou não e já esteve aqui antes de mim?

- É... Chato admitir, não é?

- Agora é o sujo falando do mal lavado...

- Mas você não entende...

- Eu não entendo? Eu estava prestes a continuar e você começou com essa ladainha!

- Já viu como o a vista daqui é bela?

- Hã? O que...

- A vista. Está vendo como é bela?

- É... Realmente.

- Então, para que ir lá se você pode muito bem ficar aqui apreciando tudo isso?

- Isso pode ser tudo para ti, mas para mim é o mínimo.

- Tem certeza?

- Certeza eu não tenho, mas do que me vale uma paisagem apenas contemplativa?

- É a melhor certeza do que esses caminhos tortuosos, com toda certeza!

- Tortuosos? Só por que você teme o que não conhece...

- Mas por que não fica aqui comigo?

- Porque é provável que eu enjoe.

- Mas não há nada para se enjoar!

- Bem, posso enjoar de mim mesmo, de ti e da paisagem, não?

- Mas como, bela assim?!

- Essa beleza morre algum dia, ou eu morrerei antes que isso aconteça.

- Bem, você quem sabe...

- Você vai mesmo?

- Vou não, já estou a caminho.


Lucas Macedo Lopes

17 de julho de 2009

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quinta-feira, 16 de julho de 2009

[ Mas Que Belo Mènage ]


Não é a primeira vez que vejo alguém fazendo piadas de um livro por causa de sua capa. Ainda a um certo tabu quando se vê estampado na capa um título estampado com os seguintes dizeres: Ménage à Trois. A cor vermelha, a forma como o título foi colocado e as letras miúdas “Eu Versos Eu, Sem Vergonha, Mundo da Lua e outros poemas” são um tanto quanto intrigantes para qualquer leitor

“Ménage à Trois, como o próprio nome diz, é um caso de amor a três. Neste caso, os três primeiros livros de poemas de Paula Taitelbaum: Eu Versos Eu (WS Editor, 1998), Sem Vergonha (L&PM, 1999) e Mundo da Lua (L&PM, 2002), reunidos em um só volume da coleção L&PM Pocket”.

Quem é Paula Taitelbaum? O próprio livro não revela quem é essa autora que tanto me proporcionou sensações engraçadas. Digo engraçadas, pois sua fina ironia provoca risos no leitor e o que se vê pele sua obra é o reflexo de todas as mulheres. Não, não conheço todas, mas os poemas revelam angústias comuns que os relacionamentos podem causar. As dúvidas vão além da esfera do emocional, se confundem com o carnal, misturam experiências e esperanças de encontrar alguém que “Apesar do olho no olho / Mais uma vez fiquei de molho “(17., Ménage à Trois, Pág. 20). E é assim, com uma fina sagacidade, que ela vai traduzindo as experiências e sensações femininas através da escrita:


31.

Primeiro fui menina, guria

Depois moça e agora tia

Daqui a pouco, sem demora

Tô sentindo

Vão me chamar de senhora

(Paula Taitelbaum, Ménage à Trois, pág. 27)


53.

Adivinha?

Quando pensei que o amor vinha

Quando achei que ele estava na minha

Ele veio com essa ladainha

E eu que achava que tinha

Fiquei novamente sozinha.

(Paula Taitelbaum, Ménage à Trois , Pág. 41)


Não havia lido antes nenhuma obra desse tipo escrito por uma mulher, e o resultado foi um ótimo livro para se ter a cabeceira. Claro, por ter sido escrito por uma mulher não quer dizer que eu esteja criando preconceitos, mas a divulgação é nula desse tipo de literatura, apenas com um bom faro (ou muita coincidência) é que se pode encontrar algo com tamanha qualide.

Sendo a coletânea de seus três primeiros livros, percebesse uma evolução de sua escrita. Eu Versos Eu é basicamente composto por poemas curtos, Sem Vergonha já é algo em transição, com alternância entre os vários poemas curtos com alguns longos e Mundo da Lua já se mostra mas equilibrado quanto ao “tamanho” de seus poemas (nota-se uma busca por uma mudança de estilo que vá agregar um valor maior a obra ou evitar que os leitores fiquem enfadonhos com eventuais repetições).


71.

Homem sem conteúdo

É como criado-mudo

Ali parado

Ao nosso lado

Abarrotado de coisas pessoais

Mas quase sempre banais.

(Paula Taitelbaum, Ménage à Trois , Pág. 52)


90.

Vai pra puta que te pariu!

Só que, ei ,psiu!

Não esquece de voltar logo, ouviu?

(Paula Taitelbaum, Ménage à Trois , Pág. 61)


O maior arrependimento será você se deparar com um livro tão convidativo como esse e não levá-lo para casa. Buscando por algo que alivie sua cabeça, ou algo que vá ocupar suas horas vagas e lhe dar algum prazer? Ménage à Trois, de Paula Taitelbaum, é uma excelente escolha.

Ménage à Trois, L&PM Pocket, 240 páginas, Paula Taitelbaum, R$16,00.


Lucas Macedo Lopes

15 de julho de 2009

~/Ł/~

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre