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sábado, 4 de outubro de 2008

[Bananas]


- Alô?

- Alô, tem como alguém vir pegar as bananas?

Bananas?!

- Bananas?

- Sim, as bananas aqui no 10.

- Bananas, no 10?

- Sim, tem como pedir pra alguém pegar?

- Você interfonou para qual andar mesmo?

- Para o 13, não é do 13 não?

Desde quando a senhora do 10 envia bananas aqui para casa?

- É sim. Eu já estou indo ai pegá-las.

- Está certo.

- No 10, não é?

- É sim.

Coloquei o interfone no gancho e me dirigi até meu quarto. Bananas? Eu pensava que elas chegavam da feira todos os sábados pela manhã! Tirei a minha já gasta blusa branca e meu calção verde e me vesti de azul para descer os três andares que nos separavam.

A porta da cozinha – que dava acesso ao elevador de serviço – estava trancada. Todas as chaves sobressalentes estavam nas mãos dos outros moradores da casa. Andei novamente pela área de serviço, passei pela porta da cozinha e atravessei o apartamento à porta principal. A tarde continuava o seu curso, tornando o pôr-do-sol – estampado na minha camisa – mais autêntico à medida que o branco-gelo da parede tornava-se mais alaranjado.

Sempre alguém, fora o casal de patriarcas da família, faz uma visita ao décimo andar. Não importa a hora do dia: A porta da frente sempre está aberta e, o que parece, o mesmo acontece com a de trás. Ao olhar para dentro do apartamento, uma vasilha carregada de bananas verdes me encarava. A boa senhora, com seus trajes para exercitar-se, sorriu um sorriso de avó. Entregou-me a bacia, perguntando se não havia problemas se a minha blusa se sujasse.

- Não, não, nem se preocupe, devolvo já a sua bacia.

- Se preocupe com isso não meu filho.

Na ausência de palavras, sorri. Não que eu não tivesse nada para dizer a ela. Antes de dar-lhe as costas, não havia muito a fazer com mãos ocupadas.

- É normal que a senhora do 10 mande bananas para nós?

- É sim, você não sabia não? – respondeu minha irmã enquanto eu colocava as bananas na bancada da nossa cozinha.

Entreguei a bacia e ela me sorriu enquanto eu agradecia. Fui até o elevador social e vi o jardim da janela do hall bem cuidado. Uns dois palmos de altura, talvez. Da porta aberta, uma parede madeira dentro da casa, repleto de adornos que deixavam a luz transparecer.

Quando a porta do elevador fechou atrás de mim e Regina Spektor desabafava sobre seu jeito de amar, um pedaço da minha tarde ficara ali. Não que os óculos dela parecessem antiquados ou que o apartamento lembrasse as conversas na calçada sobre a vida alheia de meados do século passado, mas aquela casa era a cara de avós.

Lucas Macedo Lopes

2 de novembro de 2008



~/Ł/~


3 comentários:

Luana Silva disse...

Finalmente ele postou algo. \o/
e algo muito bom, por sinal. ;)
não perca o costume, Lucas.
Beijos:*

Nicole Aguiar disse...

de vez em quando dou uma passada aqui pra ler seus incríveis textos.
adoro o jeito como escreve ;D
espero ler maais e mais sempre..
me dê essa oportunidade :D

se cuidaa
saudadeee

;**

Thaís Bernardino disse...

Texto excelente, lucas :)
um pouco adiantado pro dia de finados, mas ficou realmente ótimo.
espero ter a oportunidade de ler mais dos seus textos ;D
beijão :**

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre