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domingo, 28 de dezembro de 2008

[Em Sua Defesa]



Mais um comentário infeliz vindo da sua boca. Um olhar frio não seria o suficiente para fazer a merda ser notada. Até porque a temperatura dos meus olhos não iria condizer com a minha paciência – paciência essa que se esgotara com o passar das semanas. Minha língua não ficaria parada em uma oportunidade como essa.

- Que engraçado, não? – minha mão sobre o meu caderno e meu sorriso em direção ao olhar da minha colega.

- Qual foi, meu chapa, falei algo de errado?

- Não, nada disso, só confirmando se a piadinha teve alguma graça...

- E o que há? O “literato” está zombando, é?

Literato. De onde ele iria tirar isso? Se não bastasse a falta de espaço do seu próprio ego, ainda tinha que aturar a sua costumeira necessidade de atenção. Ainda bem que o fim está próximo e, apesar da aparente proximidade das coisas, o mundo ainda continua grande o suficiente para nos perdemos do que desgostamos. Alguns olhares compartilhavam o mesmo sentimento.

- Longe de mim querer zombar...

- Nem se preocupe em disfarçar, eu sei quando estão tirando onda com a minha cara!

Ainda bem. Pelo menos, qualquer ironia dita não seria em vão. O tom magoado agora se misturava com a sua costumeira tentativa de se impor como líder. Alívo em saber que não era preciso uma chuva de pancadaria para conseguir feri-lo e me machucar.

- Poxa, não precisa falar mal dele assim, não!

O pequeno detalhe é que todos têm amigos. Se ninguém, além de nós dois, tivesse se pronunciado talvez não haveria surgido um mal estar no ambiente. Chegou a ser divertido ficar entre a voz dele e o olhar dos meus irmãos incomodados. Agora, com ela entrando no meio do diálogo, muda-se de figura.

- Eu falei algo de mais?

- Insinuando, sim!

- Pode perguntar pra qualquer um se eu falei alguma mentira...

- Mas eu não esperava você falar isso com ele!

De alguma forma, o réu teve que se intrometer na defesa de sua advogada.

- Eu me, posso fazer uma piadinha mais...

- Ta vendo, pode defendê-lo a vontade, ele mesmo irá contradizer o que você disser.

Ela me olhou meio estupefata com o que eu acabara de dizer. Segurou um pouco da raiva em suas mãos.

- Deus irá julgar os seus atos!

Surpreendi-me com tal profecia. De tantos argumentos, logo esse! Se Deus será o nosso juiz,

- O Diabo se encarregará do resto.

Lucas Macedo Lopes

28 de dezembro de 2008

~/Ł/~

3 comentários:

Ana Luiza Valente disse...

parte do que eu acho que eh (desculpe, nao tem acento nesse pc), me fez pensar parecido em relacao a certas coisas, tipo pessoas indesejaveis na escola, mass infelizmente durante toda a vida teremos que aguentar pessoas assim,insuportaveis... posso estar viajando...
um bom texto, e sim, deus julgara...
(ou nao)

beijao meu querido diplomata sen30.

Luana Silva disse...

é, realmente, em alguns momentos não se pode segurar a verdade na ponta da língua. O que se deve discutir é qual verdade deve permanecer. E aí começa o problema. :)

MARLO RENAN disse...

"Se Deus será o nosso juiz,
- O Diabo se encarregará do resto."

Essa foi linda.

Realmente, o leitor deve saber com antecedência do que se trata esse pequeno recorte do cotidiano sobre o qual você escreveu. Creio que você o fez mais com a intenção de escarrar algum ódio contido. Estás a ver, meu caro? Escrever é uma forma de terapia!

Abraço!

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre