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quinta-feira, 30 de abril de 2009

[ Semáforo Farol ]


Cada um com os seus dragões.

Foi o que eu pensei tendo todo aquele espaço para mim. Banco de pano, carro branco em noite escura. Não que não houvesse música para preencher o vazio que três presenças próximas possam causar. Éramos a curta distância que um horizonte pode causar. Poucas coisas vividas para quem conviveu pouco para um tempo infinitamente grande que termina a sete palmos do chão. A areia corre e o ponteiro sempre dá mais uma volta. Cá estamos, numa noite quase chuvosa, um cruzamento não muito movimentado e três estranhos conhecidos.

Não lembro qual era o destino, nenhum álcool foi ingerido naquela noite e a sua lembrança ainda sim se apresenta turva para mim. Não nego que as caronas até àquelas noites foram as melhoras (e continuam sendo). Não me era permito saber das verdadeiras intimidades, naturalmente quando a intimidade está ligada à tênue linha do confiável e traiçoeiro. Posso abrir um jornal todos os dias para saber – como os complexos textos fofocáticos dizem – quem está “in” e quem está “out”, quem já era passando mesmo depois da matéria ser rodada e a especulação da próxima celebridade de 15 minutos, apresentada ao público para logo dar a certeza de mais uma leitura inútil e fútil.

Mesmo para quem guia muito bem e para quem puritana sempre se mostra, um estranho às suas costas é sempre um enigma que não pode ser ignorado. Mesmo ali, no pedaço que me cabia no latifúndio temporário, quem eram que ocupavam a minha frente? Não sou o que ontem fui, não serei o que hoje sou. Quem estava a um banco da minha frente saberiam me dizer no que consiste cada essência do que as compõem? A loucura muita, talvez o orégano estivesse passado da validade, mas o que define o “alguém”? Sim, o simples “alguém”? Como eu posso defender direitos iguais às pessoas que serão sempre tão diferentes? O direito de sermos felizes, mesmo que em casos, para se ser feliz, eu tenho que me valer da tristeza do outro? Não é preciso ir muito longe, em casa vê-se isso, na sala do trabalho ou qualquer outro lugar físico de convivência social.

Quando, nessa vida, passamos da criação dos pais às caixas retangulares multicoloridas, deixamos nos levar por um desejo que não satisfaz aquilo que realmente somos feitos, procurando quase sempre a cura do câncer com um curativo sobre a pele machucada.

Confesso não ter pensado tanto assim naquela noite. Talvez o cansaço, ou a minha tentativa de compreender, impeliram os mais longos devaneios. Ou nenhum dos dois, a companhia me era (e ainda é) agradável ao meu redor, mais do que antes, menos do que virá. Do que não me esqueço, ao olhar o farol mudar do vermelho ao verde, é olhar para além do aperto que o nosso vazio causava, era esse pensar:

- Cada um com os seus dragões.

Citação mediata até demais. Falta-nos a reflexão de um tempo onde o tempo não era apenas dinheiro. Se tivermos que perseguir a perfeição, só pude me aproximar dela ao colocar meus pés no asfalto:

- Lidar com os dragões que criamos e nos são criados, mesmo que um deles seja feito de nós mesmos.


Lucas Macedo Lopes

29 de abril de 2009



~/Ł/~

Um comentário:

Luana Silva disse...

cada um sabe o dragão que carrega dentro de si, não é mesmo?

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre