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quinta-feira, 11 de junho de 2009

[ Quilmes e Arranhões ]

Pus o que sobrara do cigarro na beira do meu copo. A brasa ainda queimava a ponta antes de mergulhar no que restara da Quilmes Cerveza. Apesar de argentina, foi um trago apreciável. Olhei no relógio a hora que a bateria tinha parado. Naquela altura, a hora não importava mais.

- Sua vez – murmurou meu companheiro

- Já vai

Olhei pra mesa, a luz da luminária dando um ar “misterioso” que era constantemente quebrado pelo vai e vem dos garçons e dos bêbados que ali passavam. Passei o giz para ver se ele me dava alguma visão de como não cegar e ainda conseguir colocar na caçapa. Não, não dava. A bola branca passou ligeira de uma lado ao outro da mesa e deu para raspar na vermelha.

- Quem tem sorte, é outra coisa... – falou com a falta da graça de não ter me visto perder a partida e deu outro gole no que sobrara da sua cerveja.

- Sorte é? – Acendi mais um cigarro e pus-me a observar o movimento. Chovia um pouco lá fora, os carros passavam loucos em direção ao bar do outro lado da rua, uma esquina de diferença. Não ria mais das tentativas de não cegar a bola do meu oponente. Depois de tantos goles era normal ele estar alegre assim. Era normal eu ficar alegre assim.

Outra tacada mal feita e desarmei duas das minhas jogadas. Não importava mais, as baforadas já me acalmaram. Olhei para fora, alguns casais de bêbados se divertindo com meia tequila em suas mãos e arriscando suas vidas de um lado ao outro da rua.

- Outra vez sua vez...

- Eu sei, eu sei... – respondi impaciente.

Não que eu não estivesse ligeiramente de sã consciência, mas ainda não tinha me desligado por completo do mundo que eu me sustentava pelos pés. A noite foi adentrando, a música aumentara bem como o número de vagabundos que rodeavam os mais desatentos.

- Sabe de uma coisa? – falei-lhe em um sussurro – Só mais uma Quilmes e vamos para um lugar mais animado?

- Humm, pode ser, aqui não tem muito que fazer além da sinuca..

Concordamos. Brindamos por qualquer coisa que tenha vindo a nossa mente e esperei pacientemente terminar meu quarto cigarro da noite. Após devidamente pisado, fui ao volante conduzindo o destino da nossa noite. Quem olha, até pensa que um Tempra não é indicador de importância para ninguém. Não estávamos preocupados com isso mesmo, apenas em achar uma vaga para estacioná-lo no meio de tantas vielas e bares abarrotados.

Entramos em um que nos pareceu organizado. Identidades foram mostradas, revistas foram feitas, mas isso não garante muita coisa. Lá pras tantas, alguém se engraçou pela companheira do outro, duas garrafas quebradas, os mais variados cortes, dois homens indo ao hospital e uma mulher envergonhada esperando o taxi para ir para o mais longe daquele pesadelo seu.

Duas prostitutas nos olhavam a umas poucas mesas de distância. Joguei meu cigarro no chão e apaguei como se ali, uma barata estivesse. Uma última baforada.

Levantei-me.


Lucas Macedo Lopes

11 de junho de 2009

~/Ł/~


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O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre