
[Mr.Blue]
Leve, pode levar. Claro, eu sei que mesmo não querendo, você irá levar consigo o que eu deixar para trás. Não se preocupe, eu te entendo. Desde sempre você é assim, sempre que eu venho aqui, você teima em apagar as marcas que eu deixo por aqui. Não se envergonhe e queira ficar passivo só por eu estar falando assim. Eu vejo que você não está bravo hoje. Menos mal, assim posso caminhar em paz.
Mas por que insiste em fazer desaparecer as minhas pegadas? Elas não são lá essas coisas, mas esse é o trabalho do tempo, e não o seu. A não ser pelas palavras que eu escrevo, eu sou apenas uma mínima parte do efêmero que nos circunda. Mas eu acho que o seu trabalho é esse mesmo. Apagar o que todos fazemos.
Sempre te admirei, até porque, não conheço algo que possa se comparar a sua grandeza. Até tenha algo que possa ser usado como “medição de importância”, mas nenhum dos outros tem tanta importância como você. Podem dizer o que quiserem: quem nunca o usou como conselheiro, não sabem a paz que você trás após uma caminhada ao seu lado.
Muitos nem ligam para a sua existência, vão até você por ser refrescante – até porque isso é uma verdade inquestionável – em busca de fortes emoções, mas quem nunca proferiu o que sentia para ti, não sabe como é recompensador chegar a uma conclusão apaziguante. Mesmo que o assunto por si só não seja relevante, quando falado ao teu lado – caminhando e sentido o vento – a resposta pode ser ouvida ao seu redor.
Claro que quando está sendo compartilhado por muitos, a resposta demora mais, mas não significa que ela não venha. Além do que, o sol sempre me acompanhou nessas horas – a não ser em dias nublados, mas nem por isso, menos importantes. O sol esquentava, enquanto você refrescava com a ajuda do vento.
Mas quando me pego olhando para ti, me perdendo na sua imensidão, as vontades que tenho é de levar as minhas feridas e cicatrizes o mais longe de mim mesmo. Talvez um nômade, ou me transformar em um velho lobo, mas qual é a graça se vejo que meus pés foram feitos para em terra firme se fincarem?
Lutar contra a minha natureza não é difícil, apenas demorada. Não é tanto, que mesmo sem asas, podemos ir para além do que conhecemos? Mas quem não conhece os prazeres da sua imensidão azul, não sabe qual é o gosto da maresia, das suas ondas nos perseguindo – com algumas até traiçoeiras, mas sem elas, não aprenderíamos a ter cuidado e redobrar a nossa atenção.
Sentar a sua beira e te observar se apossando da terra que me envolve é um tanto quanto fascinante. Fera indomável, mas dócil para aqueles que sabem te respeitar e que se deixam levar pela sua força misteriosa. Mar não é apenas água salgada que traga tudo ao seu redor: Mar é o mais antigo pensador que há, e por que não, um dos mais velhos habitantes que possamos conviver? Ele nos traz sabedoria, pois ele já esteve em todos os redutos que possamos imaginar ao nosso redor.
E está à nossa frente, seguindo o seu curso, de vir tocar os nossos pés e cobrir as nossas pegadas, pois o que é efêmero, transformar-se-á em pó algum dia.
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