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segunda-feira, 27 de julho de 2009

[ Any ]

Percorria os olhos em si mesma. Ali, deitada, como quem não faz questão que o mundo se acabe, olhava os acordes do seu violão. Dava voltas pelos seus pensamentos, acreditando em sonhos passageiros, um mundo doce que se acabava aos poucos pelo seu costumeiro enjôo e as tantas formigas que vinham participar da festa sem serem convidadas.

Passava a mão pelas suas madeixas, tornava-ás todas calmas com a exceção de um tufo cortado pela metade. Olhava assim o tempo como quem não quer nada, uma bebida ou uma água, olhando para o fundo do teto raso do seu quarto. Era sim, era assim que vivia, sem se importar com a chuva que só molhava seu próprio quarto, sem nunca querer deixar São Pedro assumir o seu devido lugar.

Desfaz-se em sombras e lágrimas, juntando todas as suas partes em uma poça só que vai pelo ralo. Quantos outros esse pedaço dela ela não encontraria perdidos pelos encanamentos dos “deixados de lado”? Quem sabe não é o lugar dos “mal amados”, ou melhor: dos que não querem amar. Melhor mesmo? Estar onde se é melhor não se permitir a sentir algo do que ficar estático em um corpo feito de apenas carne?

Não sei, ela também não sabia. Olhava para a taça sem saber o que faria: se tocaria um pouco mais no seu violão ou tentaria arrancar alguns acordes verdadeiros dos corações dos outros. Preferiu ficar ali um tempo ainda a contemplar o céu que não via, via a chuva que não a molhava dos pés a cabeça, tentou ver o sentimento que não sentia. Tentou ver o abstrato em baixo da sua cama, tentou ver o seu amigo ao celular ou qualquer coisa que a ajudasse ao máximo não tocar no outro (ou em si mesma).

Pensou ainda em colocar uma camisa pra cobrir o sutiã, mudar o short do pijama para algo menos informal. Não conseguiu. As lembranças que se apertavam no guarda-roupa não a deixavam se sentir confortável em nada que tentasse vestir. E ainda assim tentava ver a vida através de um conjunto de lentes serelepes, que vem e vão, ajustando o foco e pegando os seus verdadeiros momentos, os seus falsos momentos, os seus falsos sentimentos, os seus verdadeiros sentimentos.

Depois de um tempo, voltou a dormir.

Lucas Macedo Lopes

27 de julho de 2009

~/Ł/~

2 comentários:

Luana Silva disse...

como um coração vazio pode ser tão pesado de se carregar?

Amanda P. disse...

*---*'

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós - Jean-Paul Sartre